O esquema começou discretamente e hoje é prática comum. Alguns jornais, sites e revistas não mandam ninguém para cobrir pautas quando sabem que lá estarão assessores de imprensa. Mais tarde, um jornalista liga para a assessoria, apura os dados e pede que uma ou mais fotos sejam enviadas para o seu email. Ele faz o texto, a matéria é publicada e a foto sai sem assinatura ou com o crédito de divulgação.
O termo divulgação é ético quando a reportagem promove algo ou alguém. Por exemplo, um restaurante, um artista… As respectivas assessorias de imprensa – que pagam aos seus jornalistas e fotógrafos – enviam para os veículos de comunicação o material dos clientes para ser divulgado. E soltam rojões quando emplacam de graça uma nota, uma foto, uma reportagem. Comprar espaço é muito, muito caro. Nesse caso, trata-se de uma troca. O veículo recebe – não pede! – o chamado release com as fotos, usa-os gratuitamente, e a assessoria consegue destaque para o quê ou quem está promovendo. São elas por elas.
Aí, certos veículos, por falta de profissionais suficientes, resolveram misturar tudo e tirar proveito da situação. Quando o jornalista telefona solicitando o material – porque recebeu ordem para fazer isso -, garante que o crédito da foto será dado. Mente para não perder o emprego. Ao sair publicada, a foto é vista como se tivesse sido tirada pelo Além ou pela senhora divulgação.
Por que os veículos de comunicação agem assim? Certamente não é por descuido… Os patrões têm medo de serem obrigados a pagar os direitos autorais – o que seria muito justo, aliás. Se não contratam repórteres fotográficos, que paguem ao profissional de fora. Entretanto, a principal reclamação da classe não é pela falta de pagamento, é pela ausência do crédito. Os fotógrafos enlouqueceram? Não. Os nomes deles publicados sob as fotos garantem a autoria e possibilita a realização de freelas remunerados.
Realmente, é muito constrangedor para o repórter fotográfico mostrar o seu trabalho e não ter como provar que está falando a verdade. Ele apresenta o portfólio e afirma “eu tirei essa, essa eu fiz durante a ressaca, essa foi na implosão de um prédio…”. Sim, a fotografia está ali, mas o crédito, o nome dele, não! O possível cliente pode confiar ou duvidar da palavra do profissional. Segundo fontes de assessorias, a maioria não acredita. E lá se foi a possibilidade do repórter fotográfico ganhar um dinheiro extra.
Os fotógrafos recebem mal e atualmente ainda enfrentam mais esse problema. Eles não podem denunciar abertamente o abuso sob risco de serem penalizados. Por isso, para mim, já passou da hora do sindicato da categoria se mexer para coibir o emprego errado da dona divulgação e encontrar uma forma desses repórteres fotográficos serem remunerados. A briga será justíssima.
*Vera Lucas é jornalista e escritora. Vera (veraguiomarlucas@gmail.com) é jornalista graduada pela UFRJ em 1981 e pós-graduada
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